Sabe seu moço, é intrigante.
É assustador, desolador, solitário.
Sim, é uma dor solitária.
No começo, todos se unem à você para um pranto coletivo.
Aos poucos, um por um vai seguindo sua vida, vendo tudo colorido novamente.
Uma recordação aqui, outra ali, um comentário acolá, mas a vida segue colorida.
Como sabidamente disse Shakespeare: " Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
As pessoas nunca serão capazes de entender, compreender por que você ainda está sangrando?
Por que simplesmente não levanta e segue em frente?
Olhar ao redor e ver tudo funcionando normalmente, as pessoas vivendo, como se nada houvera acontecido, quando pra você parece que a vida parou, é assustador.
É como se vivesse em um mundo sem som, sem cor, como se estivesse isolada.
Caminhando desorientada, sem trilha sonora, enxergando tudo cinza, sem esperança alguma.
A sensação é de que nunca mais a vida será a mesma.
Viver faltando um pedaço seu é como ser preterida.
É ser alguém fora do contexto.
Há em você uma marca, que nunca mais sairá.
Por mais que chorem sua dor, por mais que tentem te compreender e até consolar, confortar, nada parece surtir efeito, você ainda está só.
A dor é só sua.
É particular, pessoal, íntima e totalmente solitária.
Se dar conta de que apenas a sua vida parou, de que só para você o sol não tem o mesmo brilho, a música não tem os mesmos acordes que antes te tocavam, as festas não são mais atrativas e nada mais faz sentido, é desesperador e absolutamente solitário.
Pior ainda é ter que aceitar que a sua vida, mesmo sem cor e sem som, segue em frente, precisa seguir.
Há deveres, responsabilidades, pessoas que necessitam de sua participação na vida delas, você tem que viver, mesmo faltando um enorme pedaço.
E tem que ser uma vida por inteiro. Dar o seu melhor, preservar o mundo de seus expurgos, ninguém tem nada a ver com isso, seus problemas são seus.
O mundo não tem tempo nem paciência para dores, lamentos, lágrimas.
Necessitam de pessoas pró-ativas, eficientes, eficazes.
Sabe seu moço, essa parte é a mais difícil e complicada.
Ser um zumbi, vivendo a luz do dia, escondendo-se dos holofotes, mantendo-se fora da berlinda, protegendo a identidade de sua alma, num esforço descomunal para estar inserida no dia a dia sem sentir-se parte dele.
É como um super herói, que esconde atrás de seus óculos seus poderes, só que nesse caso, o esforço é para esconder atrás de sua vida "colorida", a rachadura perene de sua alma.
REFLEXÕES DO DIA:
"Por isso eu louvei os que já morreram, mais do que os que vivem ainda.
E melhor que uns e outros é aquele que ainda não é; que não viu as más obras que se fazem debaixo do sol. - Eclesiastes 4:2-3
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